Varal literário coleciona prêmios em Ubatuba
“ Um dia frio, um bom lugar para ler um livro…” A letra da canção entoada por Djavan encaixa perfeitamente no cenário da tarde de uma quarta-feira chuvosa no interior da Escola Municipal Madre Maria da Glória em Ubatuba.
Em uma das salas no segundo andar, da porta já é possível avistar a lousa onde está escrito: o Som da poesia – Literatura de Cordel. Esse é o tema da aula do dia, que faz parte do projeto Varal Literário, realizado pela professora Suzete Piovesan.
A iniciativa tem oito anos, já funcionou em diversas escolas do município e, atualmente, atende crianças da Escola Municipal Madre Maria da Glória no contraturno escolar. São cerca de 20 crianças que participam das atividades às segundas e quartas-feiras, durante duas horas corridas.
Suzete é jornalista e morava em São José dos Campos. Quando se mudou para Ubatuba, sentiu dificuldade de encontrar trabalho na área. Enquanto isso, ela se inscreveu nos concursos de poesia da Fundart – ela se autodefine “jornalista de profissão, escritora por vocação”. Em meio a um deles, um dos envolvidos sugeriu que ela elaborasse um projeto para começar a trabalhar.
Foi assim que surgiu a ideia do Varal Literário, pois seu objetivo era incentivar as pessoas a ler. Porém, não somente se limitar à leitura, mas vocabulário, ortografia, música e teatro, dentre outros. Hoje, os alunos se tornam verdadeiros poetas: escrevem o que sentem e, como ela mesmo classifica, só tira os “entulhos”, mostrando o que não precisa estar.
São várias modalidades de trabalho: um exemplo é o desenho poema – a criança desenha e, a partir da figura e do significado que o aluno vai apontando, a professora ajuda a combinar as palavras em uma pequena poesia.
Suzete abusa da criatividade para entreter e educar de forma lúdica. Uma delas é o jogo das palavras cruzadas.
“Gostaria muito de promover um campeonato de palavras cruzadas. Minha ideia é que seja entre quatro escolas e inicialmente pode envolver crianças de 9 a 14 anos. Para isso, precisava de apoio pois queremos fazer duas categorias: grupos e individual. Para a competição individual, as crianças já sugeriram o prêmio: uma bicicleta, tablet e mp3 – até porque, as crianças são imediatistas. Elas não querem saber se vão aprender algo para o futuro, mas querem ser recompensadas agora”, explica a professora.
Ela conta que faria uma preparação com os competidores por dois meses, para eles se habituarem com o jogo e com as regras
Com as atividades desenvolvidas no varal, a professora trabalha diversas disciplinas com os alunos. Matemática e economia gira em torno dos dinários: moeda criada na sala e que é trocada por chocolates. Ética e construção do caráter são discutidas por meio de frases de filósofos e discussões até mesmo, de situações cotidianas da escola.
A equipe também está produzindo o jornal do varal, com entrevistas e histórias, muitas vezes, de arrepiar.
Ao todo, nesses dez anos de projeto, foram mais de 19 alunos premiados em concursos. “Tivemos um caso de um garoto, morador do bairro Sertão do Ubatumirim, que foi premiado e não acreditava – tanto que a mãe não o levou para receber o prêmio porque achou que não fosse verdade”, orgulha-se.
Uma delas é a jovem Vitória Cubas Barbosa, de nove anos, aluna do 4º ano. A pequena muito falante e esperta, ficou em primeiro lugar no concurso de antologia poética da FundArt em 2015 – com uma poesia intitulada “o garoto”
Ela conta que os poemas escritos pelos pequenos são dignos de gente grande. “Eles exprimem, muitas vezes, a realidade e os sentimentos que guardam, muitas vezes, sem perceber. Doi aqui… um vazio lá..”, comenta.
Colecionando as pérolas dos pequenos autores desde o começo, está organizando uma espécie de livro, com as relíquias que encantam e revelam o que há de mais precioso em uma criança: a pureza do coração.
“O Varal é a coisa mais legal que existe. E eu vou aprendendo junto”, garante Suzete.
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