Numa iniciativa do Comitê das Bacias Hidrográficas do Litoral Norte, CBH-LN,  e do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental, FunBea, lideranças de São Sebastião, concluíram em Maresias a Formação em Educação Ambiental e Recursos Hídricos do Programa de Comunicação Social do CBH-LN, realizada pelo FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental. O curso de 40 horas, propositou a formação e integração entre atores e comunidade, ocasião em que os participantes refletiram sobre seus anseios e compromissos com o território onde vivem.

O enfoque foi o uso da água e, como prioridade, os integrantes do curso indicaram a falta de saneamento e o lixo doméstico e na praia como problemas que devem ser resolvidos a curto prazo mesmo porque há décadas, a população de Maresias tem sofrido com as praias impróprias e as bandeiras vermelhas da Cetesb durante todo o ano. Em razão destas demandas, o grupo decidiu dar visibilidade aos problemas e no encerramento, dia 7 de dezembro, pela manhã, realizaram na praia um manifesto de proteção ao rio.

Maresias é o maior destino turístico de São Sebastião e nas temporadas de verão recebe cerca de 40% dos turistas em trânsito na cidade, ocasião em que a população fixa dobra, num espaço de saneamento básico praticamente inexistente. Nos morros, onde a ocupação é desordenada e as residências não possuem fossas, o esgoto vai para as ruas e na parte mais baixa do bairro, como o lençol freático é muito baixo, as águas pluviais provocam o transbordo de dezenas de descargas comprovadas e clandestinas de esgoto cujo destino são os três rios que desaguam nos cantos da praia. O resultado mais nefasto deste fato comprovado em Maresias, é que nem a população flutuante e nem mesmo a fixa, conhecem as consequências que a poluição causa para a saúde daqueles que se banham nas águas contaminadas.

Ao dar um mergulho, mesmo com a praia considerada própria porque as coletas da CETESB são retiradas do meio e não dos cantos onde desaguam os rios poluídos, o banhista, principalmente crianças e idosos, podem adquirir doenças como gastroenterite, hepatite, febre tifoide e infecções graves na pele.

Conscientes da situação crítica da praia e dos rios de Maresias, a partir das metodologias de educação ambiental propostas pelo FunBEA durante os encontros, os orientadores realizaram uma pesquisa de percepção socioambiental com a comunidade, com 137 entrevistados, que resultou no manifesto ABRACE MARESIAS que será divulgado em breve. Também está previsto para acontecer em março de 2020, um evento aberto ao público, produzido pelo grupo, que integrará a programação do CBH-LN alusivo ao dia mundial da água, que acontecerá em 18 de março.  A ação contará com workshops, vivências, gastronomia, sarau, entre outros, visando popularizar boas práticas e conhecimentos sobre a bacia de Maresias, além de técnicas de saneamento alternativo, voltadas para a comunidade.

Para Semíramis Biasoli, coordenadora do FunBEA, o resultado da formação foi fantástica, mediante o desafio de construir laços e conhecimento. “O conteúdo nunca vai ser suficiente. Sempre queremos saber mais, juntar instituições e atores atuantes do território e aproximá-los do Comitê que estrutura ações coordenadas e continuadas em prol das águas do Litoral Norte.”

Presente no manifesto, Semíramis colocou que a intervenção teve o objetivo de despertar para a necessidade de cuidar das águas. Ela fez parte de um processo maior de formação em educação ambiental e recursos hídricos que integra um trabalho com o Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte cujo objetivo é construir caminhos e fortalecer a participação de todos dentro de um processo democrático do qual atuam a comunidade, os gestores públicos e a iniciativa privada, numa construção coletiva e participação de qualidade.

A líder comunitária Sabrina Moraes Pereira, do Coletivo Caiçara de São Sebastião, concluiu o curso de capacitação ministrado pelo FunBea e, como caiçara que cresceu pescando e nadando nos rios, ficou chocada ao se deparar com o esgoto indo direto das casas para os rios de Maresias. Para ela é uma pena visualizar um futuro em que seu filho e as próximas gerações não possam usar o rio para nadar e brincar”. Devemos fazer o que é necessário para chamar a atenção dentro dos parâmetros da educação ambiental, num território que precisa de planejamento. Devemos também exigir tratamento de esgoto imediato porque a bandeira vermelha da Cetesb está presente, mas os postos de saúde ficam lotados de pessoas com doenças provenientes da poluição nos rios e no mar” concluiu.

O cinegrafista Lucas Harder, da Zumbi Filmes, produtora de várias campanhas socioambientais de conscientização sobre o gerenciamento das águas, gravou cenas da intervenção que mostrou o velório simbólico do Rio Maresias. Para ele, a ação foi positiva. “Estamos enfrentando a condição das nossas águas numa situação problemática porque os rios do Litoral Norte estão poluídos e sem vida. A repercussão deste trabalho pode ser muito importante na luta pela preservação, por mais saneamento básico e pela redução da poluição das águas do mar e dos rios” afirmou Harder.

Durante o manifesto que durou cerca de 5 horas, o grupo colocou fitas de impedimento na praia alertando os banhistas para a poluição do mar. Na desembocadura do Maresias, foram fincadas dezenas de cruzes simbolizando a morte do rio e surfistas que participaram do curso se manifestaram no evento usando máscaras protetoras nas manobras que realizaram no mar.

Os participantes, durante o curso, entrevistaram 137 moradores de Maresias e constataram que 47,1 % possuem ensino médio completo e 22% são graduados. Questionados sobre como está o meio ambiente em Maresias, 24,3% disseram que está péssimo, 25,7% ruim e 24,3% regular. Sobre o que é necessário para se ter praias limpas, a maioria apontou o saneamento, coleta de lixo sistematizada e conscientização da população. Sobre a qualidade dos rios em Maresias, 35,3% disseram estar ruim, 36,8% péssima, 19,1% regular e apenas 8,1% acham que está boa. Cerca de 121 pessoas apontaram o esgoto doméstico como o maior fator que afeta a qualidade dos rios. Indagados para onde vai o esgoto de sua casa, 64,2% disseram possuir fossa séptica, 17% não souberam responder. Em relação aos resíduos, 46,7% não reciclam o lixo em casa. Fotos Divulgação FunBea